segunda-feira, 27 de novembro de 2017

FERNANDO PESSOA - O MAESTRO SACODE A BATUTA

O maestro sacode a batuta,
A lânguida e triste a música rompe...

Lembra-me a minha infância, aquele dia
Em que eu brincava ao pé dum muro de quintal
Atirando-lhe com, uma bola que tinha dum lado
O deslizar dum cão verde, e do outro lado
Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo...

Prossegue a música, e eis na minha infância
De repente entre mim e o maestro, muro branco,
Vai e vem a bola, ora um cão verde,
Ora um cavalo azul com um jockey amarelo...

Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância
Está em todos os lugares e a bola vem a tocar  música,
Uma música triste e vaga que passeia no meu qintal
Vestida de cão verde tornando-se jockey amarelo...
( Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos)

 Atiro-a de encontra à minha infância e ela
Atravessa o teatro todo que está aos meus pés
A brincar com um jockey amarelo. e um cão verde
E um cavalo azul que aparece por cima do muro
Do meu quintal...E a música atira com bolas
À minha infância...E o muro do quintal é feito de gestos
De batuta e rotações confusas de cães verdes
E o cavalo azuis e jockeys amarelos...

Todo o teatro é um muro branco de música
Por onde um cão verde corre atrás de minha saudade
Da minha infância, cavalo azul com um jockey amarelo...

E dum lado para o outro, da direita para a esquerda,
Donde há árvores e entre os ramos ao pé da copa
Com orquestras a tocar música,
Para onde há filas de bolas na loja onde a comprei
E o homem da loja sorri entre as memórias da minha infância...

E a música cessa como um muro que desaba,
A bola rola pelo despenhadeiro dos meus sonhos interrormpidos,
E do alto dum cavalo azul, o maestro, jockey amarelo tornando-se preto.
Agradece, pousando a batuta em cima da fuga dum muro,
E curva-se, sorrindo, com uma bola branca em cima da cabeça,
Bola branca que lhe desaparece pelas costas abaixo...

domingo, 19 de novembro de 2017

Poema - A ponte - SilvanaRC

Minha vida foi vivida
a cada passo, depois
dos filhos nascidos,
foi mais pensada, agora
Existia um futuro.

A  vida vivida em vão
Aconteceu a vida
inteira, a sorte estava
ao meu lado, eu sobrevivi
e vamos comemorar!

Meu desejo foi ardente
como paixão que queima
foi me levando sempre
para onde eu fui parar,
e vamos comemorar!

O sol ilumina
quem tem força
e conduz quem
tem coração bom
e vamos comemorar!

Acabou a festa
quando a responsa
chegou, comecei
outra vida, mas feliz
eu estou!

Os sonhos eu tinha
mas vi que eram
pequenos perto da
grandeza de três
crianças, meu filhos!

Que fiz de mim?
Estou aqui escrevendo
este poema pra você
e pra mim. E quando
estiver só, vamos reler.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Fernando Pessoa - O Andaime

O tempo que eu hei sonhado 
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!


Aqui à beira do rio
Sossego sem ter razão.
Este seu correr vazio
Figura, anônimo e frio.
A vida vivida em vão.

A esperança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha esperança,
Rola mais que o meu desejo.

Ondas do rio, tão leves
Que não sois ondas sequer,
Horas, dias, anos, breves
Passam - verduras ou neves
Que o mesmo sol faz morrer.

Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha;
Despiu-se, e o reino acabou.

Leve som das águas lentas,
Gulosas da margem ida,
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida!

Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Poema de Silvana RC - Abdicação

A lua que desponta no céu
Me chama para a entrega
Do corpo e da alma
Para o descanso noturno

Meu corpo cansado 
E me alma viajante
Querem se doar
ao silêncio da noite

Minha valentia e meu fulgor
Dão passagem à entrega
Do sono e dos sonhos

Tiro o meu peso
Do dia que vivi
E durmo para acordar!