domingo, 6 de novembro de 2016

COMO UMA VOZ DE FONTE QUE CESSASSE- FERNANDO PESSOA

Como uma voz de fonte que cessasse
(E uns para os outros nossos vãos olhares
Se admiraram), p'ra além dos meu palmares
De sonho, a voz que do meu tédio nasce

Parou...Apareceu já sem disfarce
De música longínqua, asas nos ares,
O mistério silente como os mares,
Quando morreu o vento e a calma pasce...

A paisagem longínqua só existe
Para haver nela um silêncio em descida
P'ra o mistério, silêncio a que a hora assiste...

E, perto ou longe, grande lago mudo,
O mundo, o informe mundo onde há a vida...
E Deus, a Grande ogiva ao fim de tudo.

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