Do ponto de vista sociológico, a importância do consumo é identificada por Bauman5
ao afirmar que a felicidade e a dignidade humana atingiriam seu ápice, segundo os padrões da
sociedade do consumo, com a obtenção do consumo abundante como “marca do sucesso e a
estrada que conduz diretamente ao aplauso público e à fama”. Em outras palavras, vivemos
em um “mundo onde produtos são sentimentos e a morte não existe. [...] Onde o cotidiano se
forma em pequenos quadros de felicidade absoluta e impossível. Onde não habitam a dor, a
miséria, a angústia, a questão. Mundo onde existem seres vivos e, paradoxalmente, dele se
ausenta a fragilidade humana.
”6
5
BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 55.
6
ROCHA, Everardo P. Guimarães. Magia e capitalismo. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 25.
É neste contexto que Lipovetsky7
desenha a substituição da sociedade rigorísticodisciplinar
por uma “sociedade-moda”, fundada na “cultura hedonista e psicologista que incita
à satisfação imediata das necessidades, estimula a urgência dos prazeres, enaltece o
florescimento pessoal, coloca no pedestal o paraíso do bem-estar, do conforto e do lazer.”
Este sentimento constante de sedução atua, a nosso sentir, como fonte legitimadora da já
identificada “sociedade do superendividamento”8
, vista na condição de fenômeno de massa
capaz de desestabilizar a ordem política, econômica e social.
O crédito, nas condições da sociedade atual, revela a similitude assustadora com a
sociedade feudal, porque uma “fração de trabalho já é devida antecipadamente ao senhor, ao
trabalho escravo”, porquanto o sistema induz que a compra ocorra antes, “para em seguida se
resgatar o compromisso por meio do trabalho”.
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